Agendado: 86ª reunião, 17 de Novembro de 2015
Debatido e votado: 17 de Novembro de 2015
Resultado da Votação: Aprovado por unanimidade
Passou a Deliberação: 277/AML/2015
Publicação em BM: 3º Suplemento ao BM nº 1135
Pancho Guedes, arquitecto e artista
Faleceu no passado dia 7 de Novembro, na África do Sul, com 90 anos de idade, o arquitecto Pancho Guedes, natural da cidade de Lisboa.
Formado em Arquitectura na África do Sul, Pancho Guedes, de seu nome Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes, tinha-se fixado em Moçambique, tendo iniciado a sua actividade como arquitecto em Lourenço Marques. Nos anos 50 viaja pelo sul da Europa e contacta com os trabalhos de Le Corbusier e de Gaudi, que influenciam decisivamente a sua obra, marcada pelo contexto africano e pelo movimento surrealista, que admirava.
Trabalhou em Moçambique, na África do Sul, em Portugal, em Angola e na Suazilândia, mas é em Lourenço Marques (actual Maputo) que é mais forte a sua marca. É autor de obras como o “Leão que ri”‘, “Prometheus”, “Igreja da Sagrada Familia” ou “Escola (clandestina) dos caniços”.
Publicado em 1961 na “World Architecture” e na “Architectural Review” e em 1962 na revista francesa «L’Architecture d’Aujourd’hui», sob o título “Architectures Fantastiques”, participa no “Team 10″, com Peter e Alison Smith.
Autor multifacetado, arquitecto, escultor e pintor, as suas obras procuravam uma intercomunicabilidade das artes e uma grande liberdade formal. Reclamava para a arquitectura “os direitos e liberdades que pintores e poetas detém desde sempre”. Em 1962, no 1.º Congresso de Arte Africana em Salibury, Rodésia, afirma a universalidade na diversidade: “Acho, escreveu, que os criadores são sempre mágicos, onde quer que se encontrem, na Europa, em África ou na América. Acho que nos devíamos interessar pela universalidade da arte, pelas forças que levam as pessoas a fazer coisas, em vez de tentar descobrir diferenças sem importância”.
Participou em várias exposições internacionais, a última das quais na 10ª Bienal de Arquitectura, em Veneza (2006), onde, em conjunto com Ricardo Jacinto, apresenta a instalação “Lisboscópio”.
Leccionou Arquitectura em Witwatersrand, na África do Sul, onde permaneceu até voltar para Lisboa em 1990, tendo a partir dessa data ensinado arquitectura em diversas escolas da cidade (UTL, U. Lusíada, U. Lusófona e U. Moderna) marcando uma geração de arquitectos ao longo de 20 anos.
Comendador da Ordem de Santiago e Espada, recebeu a Medalha de Ouro para a Arquitectura do Instituto dos Arquitectos Sul-africanos e foi doutorado honoris causa por diversas universidades (Pretória e Wits, na África do Sul, e Universidade Técnica de Lisboa).
“Pancho Guedes – Vitruvius Mozambicanus” foi o nome da grande retrospectiva da sua obra no CCB, em 2007. Em 2011, o Município apresentou a exposição “As Áfricas de Pancho Guedes – coleção de Dori e Amâncio Guedes”. Áfricas que soube incorporar com criatividade, emoção e enorme plasticidade na sua vasta obra.
A Assembleia Municipal de Lisboa , reunida em 17 de novembro, rende homenagem à memória e à obra de Pancho Guedes e exprime aos familiares o pesar pelo seu falecimento.
Lisboa, 17 de Novembro de 2015
A Presidente
Helena Roseta