Agendado: 64ª reunião, 21 de Abril de 2015
Debatido e votado: 21 de Abril de 2015
Resultado da Votação:Aprovado por unanimidade
Nota: Subscrito pela Srª Presidente da AML, pelos Grupos Municipais do PS, PAN, PNPN e Deputados Municipais Independentes
Consultar voto em PDF anexo
Passou a Deliberação: 90a/AML/2015
Publicação em BM: 4.º Supl. ao BM 1105
José Mariano Gago, cientista, democrata e grande português
Ontem, ao meio-dia, junto aos edifícios das universidades, politécnicos, centros de investigação e centros Ciência Viva por todo o país, durante cinco longos minutos, cientistas, professores e estudantes perfilaram-se e, numa última homenagem, aplaudiram Mariano Gago. Um homem e um professor que todos reconhecem como grande português e grande reformador, que se considerava ele próprio “parte de uma geração que, na Europa, na América, e noutras partes do mundo, quis levar a ciência para a rua, levar a experimentação para a escola, trazer a argumentação científica para dentro dos debates de sociedade e para a decisão política democrática”. Para ele “sem pensamento, sem diálogo estruturado sobre o porquê das coisas, sem controvérsia, sem enigma, sem verdadeira experimentação, não há ciência nem educação científica”.
José Mariano Rebelo Pires Gago, nascido em 1948, licenciou-se em engenharia electrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, em 1971, onde se destacou como dirigente associativo. Bolseiro do Instituto de Alta Cultura nesse mesmo ano, partiu para Paris onde realizou o seu doutoramento em Física, pela École Polytechnique – Université Pierre et Marie Curie –, com uma tese sobre a produção e transferência de energia, concluída em 1976. Como físico, trabalhou no campo da aceleração e da colisão de partículas, das altas energias, exercendo funções no laboratório do CERN – Centre Européen de Recherche Nucléaire – em Meyrin, nos arredores de Genebra, a partir do mesmo ano de 1976.
A permanência de Mariano Gago na Suíça teve também como pano de fundo a sua militância contra a ditadura, que o inibiu de se restabelecer em Portugal até 1974. A seguir ao 25 de abril, conservou-se na Suíça, realizando estadias mais ou menos prolongadas em Portugal, onde colaborou em diversas iniciativas cívicas, nomeadamente em campanhas de alfabetização de adultos. Foi em Genebra que recebeu o convite para dirigir, em 1986, a Junta Nacional para a Investigação Científica e Tecnológica, cargo que manteve até 1989. Durante a sua gestão, foram promovidas as “Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica” (Maio de 1987), no contexto das quais são lançadas as bases para um primeiro “Programa Mobilizador da Ciência e da Tecnologia”, visando a inscrição da ciência portuguesa no contexto europeu e internacional, bem como a consolidação de uma cultura de informação e de trabalho em rede entre cientistas e instituições de ciência.
Tinha uma visão para Portugal em que a Ciência devia desempenhar um papel impulsionador, como explicou no “Manifesto para a Ciência em Portugal” (1990) e, mais tarde, em “O futuro da cultura científica» (1994)”. Foi um dos responsáveis pela criação da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, gestora da inovadora rede dos centros Ciência Viva. Entre 1995 e 2002, foi ministro da Ciência e da Tecnologia, lançando então o “Programa Ciência” e a “Unidade de Missão Informação e Conhecimento” para o desenvolvimento da Sociedade da Informação em Portugal. Entre 2005 e 2011, foi novamente chamado ao governo, na qualidade de ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Em 2011, retornou ao Instituto Superior Técnico, de que foi professor catedrático, e ao LIP – Laboratório de Instrumentação e Física de Partículas, de que foi Presidente até à data do seu prematuro falecimento.
Membro da Academia Europeia de Ciência, fundada em 1988, Mariano Gago foi agraciado com o título de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada, em 1992.
A Assembleia Municipal de Lisboa, reunida em 21 de Abril de 2015, delibera:
a) Expressar a sua homenagem ao cientista, democrata e patriota que foi José Mariano Gago, reconhecendo o seu contributo ímpar para a Ciência e para o desenvolvimento em Portugal;
b) Aprovar um voto de pesar pelo seu falecimento e exprimir os seus pêsames à família;
c) Recomendar à Câmara Municipal que perpetue a sua memória na toponímia da cidade.
Lisboa, 21 de Abril de 2015
A Presidente da Assembleia
Helena Roseta