Agendado: 61ª reunião, 24 de Março de 2015
Debatido e votado: 24 de Março de 2015
Resultado da Votação: Aprovado por unanimidade e aclamação
Consultar voto em PDF anexo
Passou a Deliberação: 55/AML/2015
Publicação em BM: 3.º Supl. ao BM 1101
Em memória do poeta Herberto Hélder
Herberto Helder é um dos poetas maiores da língua portuguesa. A sua morte priva-nos do potencial criativo e genial de uma voz única na poesia contemporânea, mas não nos priva de poder continuar a aceder à sua obra.
É por todos sabido que Herberto sempre se afastou voluntariamente da fama e dos holofotes mediáticos. Preferiu a solidão e o recato. O autor de livros míticos como, entre outros, “Photomaton&Vox”, “Os passos em volta” ou “Servidões”, incensado pela crítica, recusou em vida todas as honrarias e prémios, desde o Prémio Pessoa a muitas outras homenagens que lhe quiseram fazer. Em janeiro de 2001, juntou-se a vários poetas e artistas para recusar com veemência a ideia da Câmara Municipal de Oeiras lhe erguer uma estátua no Parque dos Poetas. Na altura, enviou um bilhete ao jornal Expresso para informar “que não lhe apetecia viver num parque”. E publicou um texto indignado, intitulado “Os poderes”, no jornal “A Phala” (nº 83, janeiro/fevereiro de 2001).
No dia triste em que registamos o seu falecimento, oiçamos com respeito e humildade excertos dessa sua mensagem sobre o poder da poesia e o poder dos autarcas:
“O poder de um poema diz respeito ao mundo, e por isso se considera a poesia uma actividade perigosa. A política é anódina porque o seu objecto não é o mundo, mas uma ficção do mundo. Conseguimos então conceber um político – seja qual for a escala -, um autarca, por exemplo, erguendo-se sobre o funcionamento dos esgotos da autarquia ao mesmo tempo que joga com imagens do mundo: poemas, os autores, a territorialidade (…) Ao invés de qualquer político, mesmo um pequeno político, se é que existem «grandes políticos», qualquer poeta tem de ser humilde, pois sabe que depende do mundo em termos incertos, perigosos, quer dizer: segundo as forças e formas em que o mundo depende dele, autor de poemas, de pactos com o mundo.”
A Assembleia Municipal reunida em 24 de Março de 2015 delibera, em nome dos cidadãos lisboetas que representa, aprovar um voto de pesar pelo fim da vida do poeta Herberto Helder, exprimir os seus pêsames à família e apelar a que todas as escolas e bibliotecas da cidade de Lisboa promovam o acesso alargado à sua obra, que mantém e manterá vida enquanto houver livros, leitores e língua portuguesa.
Lisboa, 24 de Março de 2015
A Deputada Municipal Independente
Helena Roseta